Empurrada por expectativas frustradas – criadas por promessas de campanha descumpridas, pela crise econômica e pelo agravamento da crise de corrupção na Petrobras – a avaliação positiva de Dilma Rousseff caiu 19 pontos percentuais em 60 dias. Passou de 42% para 23%, segundo Datafolha, acendeu a luz amarela no governo.
Para tentar estancar a queda, a pior marca de um presidente desde Fernando Henrique Cardoso, em 1999, o Palácio do Planalto vai reformular a estratégia de comunicação. Dentro do novo roteiro, a ideia é que Dilma rompa o isolamento do Planalto, cumpra mais agendas públicas e retome o hábito de conversar com a imprensa.
Em linhas gerais, a estratégia utilizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando enfrentou o desgaste do mensalão. Depois do Carnaval, ela pretende fazer um pronunciamento à nação, lançar um conjunto de medidas positivas e apresentar ações do governo contra a corrupção.
Contra a estratégia da agenda positiva está um conjunto de acontecimentos recentes, que passou aos brasileiros, segundo dados do Datafolha, a impressão de que a presidente não falou a verdade na última campanha eleitoral. Para 60% dos eleitores, Dilma mentiu na campanha eleitoral.
Ainda segundo o instituto, para 77% dos entrevistados, a presidente tinha conhecimento da corrupção na Petrobras. Para 52% deles, ela sabia do escândalo e não agiu. Outros 25% disseram que ela nada pôde fazer, mesmo sabendo dos casos de corrupção.
Para 47% dos entrevistados, a presidente é “desonesta”. Outros 54% falam que ela é “falsa” e 50%, “indecisa”.
Agenda difícil
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, lembrou que o PT enfrentou outros períodos difíceis. Para ele, a eleição polarizada, seguida de uma agenda “difícil”, ajudam a explicar a queda de popularidade. “As denúncias sobre corrupção ocupam boa parte da agenda política e não há punição ainda, o que cria um descontentamento na população”, disse.
A queda na popularidade de Dilma deu mais ânimo à oposição. Ontem, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse na tribuna da casa que falar sobre o impeachment da presidente não pode ser considerado “golpismo” nem causar “arrepios” nos petistas. “A palavra impeachment está escrita na Constituição. Portanto, ao pronunciar a palavra impeachment, não se pode produzir arrepios. Não é esse o caminho que queremos trilhar. Mas quem fala isso, e fala cada vez mais alto, é o povo brasileiro”, afirmou.
Na Câmara dos Deputados, o baiano Antônio Imbassahy (PSDB) confirma que não é este o caminho que a oposição deseja, mas diz que os atos da presidente alimentam este tipo de especulação. “A queda na popularidade dela retrata o sentimento de indignação das pessoas com a crise de corrupção na Petrobras e com as sucessivas traições que a presidente Dilma Rousseff vem promovendo”, afirma.
Segundo ele, até o momento, a oposição “ainda não trabalha com a possibilidade de pedir” o impeachment da presidente, mas diz não ter problema em propor, caso os fatos justifiquem. “Por que não? Nós vivemos em um regime democrático, regido por uma Constituição plena, que prevê a possibilidade de impedimento presidencial. Se vier a se comprovar que ela participou de malfeitos, estará sujeita a isso”, diz.
O senador baiano Otto Alencar (PSD) avalia que o governo passa por um momento difícil, principalmente por conta dos problemas na Petrobras. “O cenário econômico também desgasta. Essa questão da avaliação pode estar ligada aos dois fatores, mas sem dúvida o que mais abala é a Petrobras, que vive uma crise profunda e que terá consequências graves”, afirma.
Otto critica os adversários de Dilma Rousseff, que “estariam tentando a qualquer custo” relacioná-la aos problemas na Petrobras. “Eu acho muito engraçado que só os tucanos (políticos do PSDB) tenham o direito de dizer que não sabiam. Serra pode dizer que não sabia do escândalo do metrô, mas Dilma não pode falar isso da Petrobras”, diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário