quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

BC deve subir juro para 12,25% ao ano, maior nível em três anos e meio



O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, formado pelo presidente e diretoria da autoridade monetária, se reúne nesta quarta-feira (21) e deve subir novamente a taxa básica de juros da economia brasileira, segundo a expectativa dos economistas do mercado financeiro. A decisão sobre a taxa Selic sairá na noite desta quarta.

A previsão da maior parte dos analistas dos bancos é de um aumento de 0,5 ponto percentual, a mesma intensidade da alta promovida em dezembro do ano passado, o que elevaria os juros de 11,75% para 12,25% ao ano. Se confirmada, será a maior taxa básica desde meados de 2011, ou seja, em três anos e meio.

O Banco Central vem subindo os juros, de forma ininterrupta, desde outubro do ano passado, quando a taxa Selic estava em 11% ao ano. Desde então, já foram promovidas duas altas na Selic. Se um novo aumento acontecer nesta quarta-feira, será o terceiro consecutivo.

Metas de inflação
Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Nos últimos cinco anos, porém, a inflação ficou bem distante da meta central de 4,5%, e mais próxima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro. Em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, respectivamente, a inflação somou 5,91%, 6,50%, 5,84%, 5,91% e 6,41%.

Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, informou, no fim do ano passado, que a inflação deve retomar a trajetória de convergência para a meta central "ao longo de 2015". Segundo ele, o "horizonte de convergência" com o qual o BC trabalha "se estende até o final de 2016". O objetivo do BC, portanto, é entregar a inflação na meta central de 4,5% somente no ano que vem. Antes de retomar a trajetória de convergência para a meta durante 2015, a inflação acumulada em doze meses tende a "permanecer elevada", informou ele em dezembro.

O mercado financeiro, porém, segue incrédulo. De acordo com estimativas coletadas pelo próprio Banco Central na semana passada com mais de 100 instituições financeiras, a inflação deve somar 6,67% neste ano (acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro), 5,7% em 2016, 5,5% em 2017 e 5,2% em 2018 - não atingindo, portanto, a meta central de 4,5% até o fim do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Ajuste fiscal, inflação e recessão
Para o economista da Gradual Investimentos, André Perfeito, há sinais claros de que há uma "desaceleração muito forte" na economia brasileira, o que pode jogar o país, novamente, em uma recessão neste ano (dois trimestres seguidos de queda do PIB) – conforme já foi registrado em 2014. Ele avaliou que uma recessão, em 2015, é "bem provável".

"Por isso, estou achando que vai vir uma alta menor nos juros, de 0,25 ponto percentual [para 12% ao ano]. A gente teve no final do na passado produção industrial caindo 0,7%, e o IBC-Br [prévia do PIB do BC] zero. E o Caged [Cadastro de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho] mostrando destruição de vagas em termos líquidos. A desaceleração da economia já aponta para o efeito desejado da alta da taxa de juros, que é bater nos preços livres", avaliou Perfeito.

Ele disse ainda que o ajuste nas contas públicas promovido pela nova equipe econômica, com alta de tributos sobre combustíveis, automóveis, operações de crédito e importados, além da contenção de gastos por meio da limitação de benefícios previdencários e trabalhistas, contribui para diminuir a demanda agregada no futuro - mas também repercutem na inflação no curto prazo.

"A política fiscalista que eles estão fazendo, eu não sou a favor deste ponto. Vai afundar de vez a economia brasileira. Estou prevendo contração de 0,3% para o PIB de 2015. E vai bater na inflação. Estou trabalhando com 6,40% para este ano. Não acho que passa o teto [de 6,5%] porque a atividade está afundando. Não adianta nada ter contas fiscais em ordem e demanda no lugar errado. Os empresários investem porque tem demanda na economia", concluiu ele.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse nesta segunda-feira (19) que o ajuste das contas públicas "têm por objetivo aumentar a confiança da economia, a disposição das pessoas e dos investidores em tomarem risco, e dos empresários em começarem a tentar novas coisas". Ele acrescentou ainda, na ocasião, que as medidas tendem a baixar a curva de juros de longo prazo - que serve de base para captação dos bancos.

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