O Papa apelou hoje no Congresso norte-americano ao fim da pena de morte e do tráfico de armas, num dia em que fez história ao ser o primeiro pontífice a discursar perante as duas Câmaras deste órgão legislativo.
“Desde o início do meu ministério [venho] a sustentar a vários níveis a abolição global da pena de morte. Estou convencido de que esta é a melhor via, já que cada vida é sagrada, cada pessoa humana está dotada duma dignidade inalienável, e a sociedade só pode beneficiar da reabilitação daqueles que são condenados por crimes”, declarou, em Washington.
Francisco falava diante dos membros do parlamento federal, constituído pela Câmara dos Representantes e o Senado.
“Encorajo também todos aqueles que estão convencidos de que uma punição justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o objetivo da reabilitação”, assinalou, associando-se à campanha pelo fim da pena capital levada a cabo pelos bispos norte-americanos.
A intervenção – interrompida várias vezes por aplausos e ovações em pé – realçou que os políticos devem estar “verdadeiramente” determinados a reduzir e “a longo prazo, pôr termo a tantos conflitos armados em todo o mundo”.
“Aqui devemos interrogar-nos: Por que motivo se vendem armas letais àqueles que têm em mente infligir sofrimentos indescritíveis a indivíduos e sociedade?”, questionou.
Segundo o Papa, “infelizmente” a resposta é apenas “por dinheiro, dinheiro que está impregnado de sangue, e muitas vezes sangue inocente”.
“Perante este silêncio vergonhoso e culpável, é nosso dever enfrentar o problema e deter o comércio de armas”, prosseguiu.
O pontífice apelou “à coragem e à inteligência, a fim de se resolverem as muitas crises económicas e geopolíticas de hoje”.
Francisco chegou ao local depois de ter celebrado Missa em privado na Nunciatura Apostólica e foi recebido pelo presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner, com o qual se encontrou em privado, antes de ser apresentado por este e por Joe Biden, vice-presidente dos EUA, democrata, ambos católicos.
No seu discurso, em inglês, o “Papa Francisco da Santa Sé”, como foi apresentado, sublinhou que um “bom líder político” é aquele que, “lê o momento presente com espírito de abertura e sentido prático”.
“A vós, pede-se para proteger, com os instrumentos da lei, a imagem e semelhança moldadas por Deus em cada rosto humano”, disse a 535 senadores e congressistas.
Milhares de pessoas reuniram-se fora do Capitólio, à espera do Papa, que disse querer falar “a todo o povo dos Estados Unidos”.
Nesse sentido, recordou o aniversário de alguns “americanos famosos”, como Abraham Lincoln (1809-1865), Martin Luther King (1929-1968), Dorothy Day (1897-1980) e Thomas Merton (1915-1968).
“Três filhos e uma filha desta terra, quatro indivíduos e quatro sonhos: Lincoln, na liberdade; Martin Luther King, a liberdade na pluralidade e não-exclusão; Dorothy Day, a justiça social e os direitos das pessoas; e Thomas Merton, capacidade de diálogo e abertura a Deus”, explicou.
Partindo destas figuras, o Papa disse que “uma nação pode ser considerada grande, quando defende a liberdade, como fez Lincoln” e “quando promove uma cultura que permita às pessoas «sonhar» com plenos direitos para todos os seus irmãos e irmãs, como procurou fazer Martin Luther King”.
“Quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day com o seu trabalho incansável, fruto duma fé que se torna diálogo e semeia paz no estilo contemplativo de Thomas Merton”, acrescentou, antes de terminar a sua intervenção com o célebre “Deus abençoe a América”.
No final, o presidente do Congresso acompanha o Papa à sala das estátuas, onde foi colocada a imagem do novo santo hispano-americano, São Junípero Serra, seguindo para a Biblioteca, onde recebeu uma edição rara da Bíblia.
Antes de sair, Francisco sai à varanda para cumprimentar a multidão reunida no ‘National Mall’, seguindo para uma igreja paroquial, de São Patrício, onde se encontra com sem-abrigo.
Fonte (Agência Ecclesia)
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