Pesquisa feita por um núcleo de pesquisas de uma Universidade mineira teria comprovado que as cartas psicografadas por Chico Xavier eram reais! Será?
A notícia apareceu em dezenas de portais de notícias brasileiros no dia 26 de dezembro de 2014. De acordo com a reportagem, uma pesquisa realizada em parceria com o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES-UFJF) – liderada pelo psiquiatra Alexander Moreira de Almeida – concluiu que as cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier eram reais!
O estudo, que teve início em 2011, teria analisado 13 cartas atribuídas a Jair Presente, morto por afogamento em 1974, na cidade de Americana (SP). O resultado, de acordo com o pesquisador, foi publicado em setembro de 2014 pela revista científica Explore.
As cartas começaram a ser psicografadas por Chico Xavier no
mesmo ano da morte de Jair e continuaram até 1979.
mesmo ano da morte de Jair e continuaram até 1979.
Será que essa notícia é real? Seria esse estudo uma prova incontestável da existência da vida após a morte?
Verdadeiro ou falso?
Uma coisa que deve ficar bem clara aqui é que o E-farsas não tem a intenção de falar bem ou mal sobre religião, crença ou fé!
O problema ocorre quando alguém resolve tentar misturar fé com ciência. Uma coisa não tem nada a ver com a outra e misturar fé com ciência é um enorme pecado (para ambos os lados)!
Na ciência, é preciso que haja fatos que comprovem (ou que desmintam) aquilo que se queira descobrir. Tudo precisa ser testado e, para que seja comprovado, deve ser documentado de maneira que possa ser reproduzido por outro laboratório em qualquer outra parte do mundo.
Quanto à religião, basta ter fé e acreditar.
Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!
Nunca, NUNCA MESMO, tente misturar ciência com religião!
Chico Xavier é uma figura idolatrada por muitos, mas usar de termos científicos para mascarar um estudo que tenta validar sua mediunidade é pura especulação!
Entendido isso, vamos prosseguir analisando o teor da notícia:
A manchete já começa com a falácia do Apelo à Autoridade, onde o autor tenta impor suas ideias se apoiando em alguma autoridade no assunto. No caso, ao inserir o nome do diretor de um núcleo de pesquisas de uma respeitada instituição de ensino, o autor faz com que tudo o que for dito dali em diante se torne uma verdade absoluta.
O doutor que liderou os estudos é um psiquiatra que possui um belo currículo e foi o fundador do NUPES (Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da UFJF). De acordo com o Wikipédia, o psiquiatra é filho de família que segue os preceitos do Espiritismo e algumas de suas pesquisas (muitas delas insistem em provar a existência do espírito) já foram contestadas por vários cientistas, como o neurocientista Steven Novella, em seu blog.
O NUPES, pra quem não sabe, é um centro espírita sob a pele de um núcleo de pesquisas pseudocientíficas, conforme explicado aqui, aqui, aqui, e aqui.
A pesquisa (que é um estudo de caso, conforme afirmado pelo próprio autor) não está disponível (ainda) para download. Portanto, ainda não há como verificar quais os foram os métodos usados para que os pesquisadores chegassem à conclusão de que as cartas psicografadas por Chico Xavier são verdadeiras.
Quais foram os métodos científicos utilizados para a realização desse experimento?
Foram feitos testes de duplo-cego?
Foram feitas revisões em pares do artigo?
Em entrevista (por e-mail) ao UOL, o doutor Alexander disse que o estudo confrontou os dados contidos nas cartas psicografadas com familiares e amigos de Jair Presente que foram entrevistados, assim como documentos (jornais de época) foram checados, além de escritos do Jair Presente e registros em cartórios.
O que não foi questionado nas reportagem: Se o grupo de estudos teve acesso a esses dados depois de quase 30 anos, por que razão Chico Xavier não poderia ter conseguido essas mesmas informações, na época?
Os pesquisadores apenas disseram que não havia como o médium ter acesso a essas informações. E pronto! Temos que, simplesmente, acreditar…
O estudo, segundo o pesquisador, foi publicada na revista científica Explore, da editora holandesa Elsevier, mas não encontramos o artigo no site da editora!
Obrigado ao leitor Diego Caroli, que nos enviou o link do artigo! Na verdade, é preciso ser assinante da revista ou comprar o artigo. Caso alguém tenha acesso a ele, favor nos avisar!
Pesquisa não prova que há vida após a morte
Como bem apontou o jornal O Globo, a pesquisa não comprova que as cartas foram mesmo escritas por alguém que já morreu, mas que as informações ali contidas são verdadeiras. O seja, o foco da pesquisa deveria ser como Chico Xavier teve aceso a essas informações!
Conclusão
Não é possível misturar fé com ciência! Qualquer tentativa nesse sentido é fracasso na certa. O estudo feito pelo núcleo pseudocientífico não comprova que as cartas eram reais, apenas demonstraram que o conteúdo delas possui dados que foram comprovados pela família do morto! Os próprios pesquisadores reconheceram que é muito difícil apurar fatos ocorridos há 20, 30 anos e que, é com isso, podemos concluir que não se pode confiar somente nas nossas recordações!
Uma leitura mais aprofundada sobre isso pode ser feita no excelente artigo escrito por André Luzardo no Blog Cético!
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