Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes de Souza, disse nesta terça-feira (5), durante seu júri popular no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, que as acusações feitas contra ela "não são verdadeiras" e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta. Dayanne responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho. Segundo a denúncia, Eliza foi morta em 2010 a mando de Bruno.
O depoimento da ré começou às 18h55 e terminou às 22h29. Em seguida, a sessão foi encerrada. A ré esteve tranquila, falou com calma e respondeu a todas perguntas.
Dayanne disse que seu primeiro contato com o bebê Bruninho foi em 9 de julho de 2010, no sítio do jogador em Esmeraldas (MG), onde estava desde o dia 4 do mesmo mês. Ela afirmou que Bruno pediu, chorando, que ela saísse do sítio para sua própria proteção e de suas filhas.
Ela contou aos jurados que encontrou os réus no caso à época do crime e que viu todos eles em um quarto com Eliza Samudio. A ex-mulher de Bruno disse ter perguntado quem era a jovem e que Bruno teria dito que Eliza tinha "vindo resolver uns problemas com ele". Dayanne diz que Bruno virou para e que a modelo confirmou com a cabeça.
A ré disse que ficou "um pouco alterada" com a situação e que, quando ia embora, Bruno foi atrás dela e afirmou que tinha terminado com Eliza e que estava "tudo acertado", de dar um apartamento para ela. "Ele tinha combinado com ela o valor mensal", afirmou Dayanne. "Já resolvi com ela, sempre falava assim", completou.
Dayanne contou ao júri que Bruno falou que Eliza iria naquela semana para o apartamento, mas não informou a localidade do imóvel. Depois, segundo ela, o goleiro levou Bruninho até a casa da mãe dele, onde ela estava, e apresentou a criança como sendo seu filho, sem dizer quem era a mãe do bebê.
No dia seguinte, de acordo com o depoimento da ré, Eliza ficou o tempo inteiro no sítio e saiu só um pouco à noite. "Ela ficava meio acanhada de ficar conversando comigo", disse. "Estava tranquila". Dayanne afirmou que não viu nenhum machucado na cabeça de Eliza, mas que viu o dedinho da mão machucado. "Ela disse que tinha prendido o dedo na porta".
Ela afirmou que Bruno estava no sítio no dia 10 de junho e 2010 e que Macarrão chegou à noite e disse para Eliza: "Tá na hora".
Dayanne falou que a noiva de Macarrão estava passando mal e que acompanhou a mulher até o hospital. Quando voltou ao sítio, Macarrão chegou logo em seguida. Lá também estavam Bruno e Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro. Jorge Luiz Rosa, outro primo de Bruno, menor de idade na época dos fatos, desceu do carro "com o olho desse tamanho", disse ela. Dayanne afirmou que perguntou onde estava a mãe do menino, mas que "ele não respondia".
A acusada afirmou que Bruno, Jorge, Macarrão e Sérgio ficaram conversando e que, em seguida "Bruno veio nervoso, inquieto, pediu para eu cuidar da criança". Segundo Dayanne, Macarrão disse a Bruno que Eliza tinha deixado o bebê e falado para o jogador "se virar".
O goleiro teria dito que tinha um jogo no Rio e que não poderia levar o bebê. Ela afirmou que, durante esse período, em que Bruno não estava no sítio, não conseguiu falar com o atleta. "Quando ligava, quem atendia era o Macarrão".
O promotor perguntou se Bruno e Macarrão pediram que ela negasse que estava com o bebê, e Dayanne disse que sim.
Dayanne disse que a criança estava no sítio sob os cuidados da caseira quando, no dia 25 de junho, ela ficou sabendo de um boato de que Eliza tinha sido morta por Bruno. A ré afirmou que recebeu um telefonema de um assessor de imprensa, que não sabe falar quem é, dizendo que, se ela fosse questionada sobre a morte da modelo, deveria dizer que estava tudo bem.
O promotor perguntou se Bruno e Macarrão pediram que ela negasse que estava com o bebê e Dayanne disse que sim.
Ela disse que depois disso recebeu uma ligação de Bruno e Macarrão pedindo para ela tirar o a criança do sítio. Quando o bebê estava na casa da mãe dela, Macarrão pediu para tirar Bruninho de lá e levar até um ponto indicado de uma rodovia, onde entregaria a criança para Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, amigo de Bruno. Dayanne contou que foi até o local e entregou Bruninho.
Dayanne diz também, perguntada pelo promotor, que sentiu cheiro de queimado, certa noite, no sítio de Bruno, mas que o goleiro e Macarrão disseram que estavam queimando lixo. Para a polícia, a mala seria de Eliza e foi queimada para esconder evidências do crime.
A ex-mulher do goleiro disse ao júri também que já foi agredida por Bruno, mas ponderou que ela “partia para cima dele”. "A gente brigava muito, mas a primeira agressão sempre partia de mim", disse.
Segundo Dayanne, Bruno a orientou a não falar nada quando ela foi presa porque seu telefone poderia estar "grampeado". O goleiro disse que iria mandar um advogado.
Bruno chora novamente
Antes do depoimento da ex-mulher, Bruno foi dispensado pela juíza Marixa Fabiane e retornou à penitenciária Nelson Hungria. O goleiro não pode ouvir o interrogatório de Dayanne, segundo o Tribunal de Justiça.
Ele chorou novamente, nesta terça-feira, segundo dia do júri popular dele e da ex-mulher. O jogador se emocionou durante uma exibição de vídeos sobre o caso. Bruno responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança.
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.
Sônia Moura, mãe de Eliza Samudio, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo atleta e deixou o plenário chorando, amparada por uma acompanhante.
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
Ilustração mostra momento de exibição de vídeo no
julgamento de Bruno e da ex (Foto: Léo Aragão/G1)
Bruno e Dayanne lado a lado, durante o depoimento
de Célia Aparecida (Foto: Leonardo Aragão/G1)
Célia Aparecida, prima de Bruno, foi 2ª testemunha
a falar nesta terça-feira (Foto: Leonardo Aragão/G1)
'Cuidou como se fosse dela'
Mais cedo, durante a fase das testemunhas, Célia Aparecida Rosa Sales, prima de Bruno e irmã de Sérgio Rosa Sales, réu no processo morto em agosto de 2012, disse em seu depoimento que a ex-mulher do atleta Dayanne Rodrigues, que enfrenta o júri,pediu para que ela entregasse o bebê Bruninho para Wemerson Marques, o Coxinha, amigo do goleiro. Ele é acusado de ajudar a esconder o filho de Eliza Samudio, além de participar do cárcere privado no sítio, e vai ser julgado em 15 de maio.
A entrega da criança teria ocorrido no dia 18 de junho de 2010, quando, segundo o Ministério Público, Eliza já havia sido morta. Célia Aparecida afirmou que não perguntou a Dayanne por que ela pediu para entregar a criança. O promotor Henry Castro perguntou se ela não achava estranho uma criança bem tratada ser entregue em uma rodovia, no meio da noite, para um "marmanjo".
A testemunha estava no sítio de Bruno no período em que a polícia acredita que Eliza tenha sido mantida sob cárcere privado. Ela disse aos jurados que que Bruno e Dayanne tratavam a vítima "super bem" e que conversou muito com Eliza.
Segundo Célia Aparecida, Eliza Samudio afirmou que, se contasse as "coisas pesadas" que sabia de Bruno, a vida dele iria "acabar". Em determinado dia, de acordo com a testemunha, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, disse que "estava na hora de ir" e entrou em um carro acompanhado de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno adolescente na época dos fatos, e Eliza.
Depois, relatou a testemunha, Macarrão e Jorge Luiz Rosa retornaram para sítio. "Chegaram com o neném", disse. Segundo ela, Macarrão afirmou que Eliza voltaria para pegar Bruninho. Ela afirmou que o bebê ficou com Dayanne porque os demais precisavam viajar e garantiu que a criança não foi maltratada. "Cuidou como se fosse dela", disse sobre Dayanne.
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