O Corpo de Bombeiros conseguiu controlar por volta das 23h30min o incêndio que atingiu a Vila Liberdade, no bairro Humaitá, em Porto Alegre, nas proximidades da Arena do Grêmio. De acordo com o major Paulo Henrique Monteiro, do Corpo de Bombeiros, mais de 50 casebres foram totalmente queimados, mas não houve vítimas fatais no local. A Polícia Civil vai investigar se o incêndio foi criminoso.
Conforme o oficial, o fogo foi controlado desde que não haja uma virada nas condições climáticas, como a alteração da direção do vento. “Estamos na fase de rescaldo. Foram mais de 50 casas que tiveram queima total”, afirmou ele. Entretanto, pelo menos outras 150 residências vizinhas sofreram avarias. “A fumaça e o calor danificaram muita coisa”, atestou o major.
Ao todo, 12 viaturas do Corpo de Bombeiros foram mobilizadas para o incêndio. Guarnições da região Metropolitana prestaram apoio no combate às chamas. Um bombeiro se feriu no combate às chamas, mas foi atendido com rapidez.
Um outro incêndio ocorreu na Vila Santo André, também na zona Norte, próximo a Arena do Grêmio e consumiu três casas. Segundo os bombeiros, neste caso, os motivos do fogo ainda não se esclareceram. No local, também não houve feridos.
Famílias foram deslocadas para estádio próximo
O prefeito em exercício de Porto Alegre, Sebastião Melo, compareceu ao local durante a noite. Ele garantiu que a prefeitura vai prestar assistência às famílias atingidas. “Todas as secretarias neste momento aqui, vamos dar toda a assistência necessária para o bom atendimento da situação”, prometeu. “Quando há uma crise a gente precisa de muita cautela”, acrescentou. “Primeira questão é dar condições às famílias que perderam as casas.”
Questionado sobre a falta de hidrantes na Vila Liberdade, ele prometeu: “Vamos tomar providências”, disse. “O crescimento desordenado da cidade nos leva a isso. O que aconteceu aqui na verdade é isso”, apontou.
O coordenador da Defesa Civil de Porto Alegre, Ernesto da Cruz Teixeira, relatou que todas as secretarias municipais já foram acionadas para prestar assistência à comunidade. As famílias foram encaminhada para o ginásio da Escola Municipal Antônio Giúdice.
De acordo com a Prefeitura, oficialmente o incêndio atingiu 64 residências e deixou 175 famílias desalojadas. Foram encaminhados dois feridos leves para o Hospital Cristo Redentor e um para o Fêmina, demais vítimas, com intoxicação pela fumaça, foram atendidas no local por ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), além do Samu Metropolitano e da Unimed, que prestaram apoio.
A Fasc distribuiu colchões, cobertores e alimentação para as famílias, que foram transportadas para o local em ônibus da Carris. Também foi oferecido abrigo no Ginásio Municipal Lupi Martins, na avenida Arnaldo Böher, 320, no bairro Teresópolis, e em associações comunitárias da região. A Guarda Municipal vai guarnecer as residências na Vila Liberdade.
A partir da manhã desta segunda-feira, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) vai oferecer água, a Fasc e a Secretaria Municipal de Saúde vão dar suporte com assistentes sociais e profissionais de saúde para o atendimento às famílias. O Demhab vai trabalhar com uma primeira frente de ação com aluguel social para as famílias que aceitarem um novo local de moradia, e, numa segunda fase, através de casas de emergência.
Às 9h, a força-tarefa, coordenada pelo vice-prefeito, se reúne no Centro Integrado de Comando (rua João Neves da Fontoura, 91) para acompanhar o atendimento às vítimas.
“Meus cinco filhos estão a salvo, graças a Deus”
Um dos atendidos deve ser um morador identificado como Jorge: “Na hora, meu filho me avisou do fogo. Corri com balde, tentei apagar, mas não deu. Aí a gente só saiu de casa”, relatou. “Perdi tudo, nem meu celular deu para pegar, mas meus cinco filhos estão a salvo, graças a Deus.”
Outro morador, Érlon de Lima, destacou que a comunidade sofre há tempos com a falta de estrutura, mas desta vez o fogo levou além do pouco que tinham, a forma de sustento da maioria dos moradores que era a usina de reciclagem de papel e plástico.“Sabemos que o fogo se iniciou após uma briga de casal, ao lado da oficina. O importante é conseguir lugares para realocar essas quase 800 pessoas. Depois pensaremos como recomeçar”, explicou.
Jorge, que mora há mais de 30 anos na Vila Liberdade, e falou com orgulho do local entregue à especulação imobiliária depois da construção da Arena gremista. “Me criei aqui, desde que me conheço por gente”. Ele e a família não tinham onde dormir nesta madrugada de segunda-feira. A esposa, uma senhora que também estava apenas com a roupa do corpo – bermuda e camisa sem mangas -, carregava uma sacola branca nas mãos, possivelmente com remédios.
No bairro Humaitá, moradores de outras vilas se solidarizaram e foram ajudar os vizinhos da Liberdade, entregue às chamas que contrastavam com o negro do céu. “Vim ajudar a minha irmã”, disse uma jovem que amarrava dois colchões no capô de um carro popular e antigo. Nos arredores da vila, muitos tiveram de deixar as casas pelo perigo iminente de as chamas se alastrarem às cercanias. “Com a ajuda dos vizinhos consegui tirar tudo de dentro de casa”, disse a moradora que ajeitava cobertores, roupas e um carrinho de bebê jogados no chão. Ela, visivelmente transtornada, cobrou uma providência urgente do poder público constituído.
Em meio à movimentação de bombeiros e policiais civis, moradores também corriam com reboques e carroças repletas de utensílios salvos, assim como muitos cachorros que não desgrudavam dos donos. A Vila Liberdade é parte de um complexo de outras vilas, umas próximas às outras. Boa parte das pessoas trabalha com coleta e reciclagem de lixo. Mora às margens da Freeway (BR-290), de onde o trânsito chegou a ficar lento quando curiosos motoristas – muitos retornavam do sol e praias – pisavam no freio para ter certeza de que não se tratava de um show pirotécnico na Arena, mas era fogo.
Ajude
Traga na Caldas Júnior, 219 (sede do Correio do Povo e da Rádio Guaíba) alimentos não perecíveis, roupas, fraldas e utensílios domésticos. O material vai ser repassado à Defesa Civil Municipal.
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